Todos os dias, milhares de brasileiros enfrentam uma dura realidade: aguardam ansiosamente por um transplante de órgão, tecido ou por uma bolsa de sangue que possa representar a diferença entre a vida e a morte. A boa notícia é que qualquer pessoa saudável pode fazer parte dessa rede de solidariedade. Uma única doação de órgãos pode salvar até oito vidas, enquanto a doação de sangue pode beneficiar até quatro pessoas em situações críticas.

Apesar do avanço da medicina e da estrutura do SUS, ainda há obstáculos: a falta de informação e diálogo com a família é um dos principais motivos para a recusa de doações. Por isso, é fundamental esclarecer dúvidas, combater mitos e incentivar a cultura da doação entre amigos e familiares.

O que é a doação de órgãos?

A doação de órgãos é um ato voluntário que permite que órgãos e tecidos de uma pessoa — em vida ou após a morte — sejam destinados a pacientes que enfrentam doenças em estágio terminal. Esses pacientes dependem de um transplante para sobreviver ou recuperar sua qualidade de vida.

Existem dois tipos principais de doadores:

  • Doador vivo: pode doar parte do fígado, um dos rins, parte do pulmão ou medula óssea, desde que seja compatível e esteja em boas condições de saúde.
  • Doador falecido: é uma pessoa com diagnóstico de morte encefálica, cuja família autoriza a doação. Nessa condição, é possível doar múltiplos órgãos e tecidos, como coração, fígado, rins, pulmões, pâncreas, córneas, pele e ossos.

É importante destacar que a morte encefálica é irreversível e confirmada por exames rigorosos, realizados por mais de um médico, sem qualquer ligação com a equipe de transplantes.

O que pode ser doado?

  • Em vida: rim, parte do fígado, parte do pulmão, medula óssea.
  • Após falecimento: coração, pulmões, fígado, rins, pâncreas, intestino, córneas, pele, ossos, tendões, válvulas cardíacas.

A compatibilidade entre doador e receptor é determinada por fatores como tipo sanguíneo, peso, idade e características genéticas.

E a doação de sangue?

A doação de sangue é um gesto simples, rápido e seguro, que pode ser repetido várias vezes ao ano. É fundamental para o tratamento de vítimas de acidentes, pessoas com câncer, pacientes em cirurgias e em tratamento de doenças crônicas.

Homens podem doar a cada dois meses (até quatro vezes por ano) e mulheres a cada três meses (até três vezes por ano). Todo o processo leva cerca de 40 minutos, e o sangue coletado é analisado com rigor antes de ser disponibilizado.

Por que ainda há tantas recusas à doação?

Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), cerca de 50% das famílias ainda recusam a doação de órgãos. O principal motivo é a falta de informação e preparo emocional no momento da perda de um ente querido. No Brasil, a doação só acontece com a autorização familiar — por isso, é essencial que o desejo de ser doador seja comunicado claramente em vida.

Já a doação de sangue, apesar de constante nas campanhas, sofre com baixos estoques nos hemocentros, especialmente em feriados prolongados e períodos de inverno. A participação regular da população é indispensável.

Como funciona o sistema público de transplantes?

O Brasil conta com o maior sistema público de transplantes do mundo, com cerca de 96% dos transplantes realizados pelo SUS. O processo é rigoroso, transparente e ético, com coordenação do Ministério da Saúde, que garante a logística — inclusive com apoio da Força Aérea Brasileira para o transporte de órgãos em tempo hábil.

Mesmo assim, a fila de espera ainda é longa: em 2024, mais de 40 mil pessoas aguardavam um órgão no país.

Quero ser doador. O que devo fazer?

  1. Converse com sua família. Informe claramente seu desejo de ser doador.
  2. Não é necessário nenhum documento ou registro oficial. O que vale é o consentimento da família.
  3. Divulgue sua vontade. Use suas redes sociais, compartilhe a importância do tema e ajude a conscientizar mais pessoas.

No caso do sangue, basta comparecer a um hemocentro com um documento com foto. O processo é rápido, seguro e você pode repetir essa atitude solidária ao longo da vida.

Doe órgãos. Doe sangue. Doe vida.

A doação salva vidas. Ela transforma finais em novos começos. E começa com uma atitude simples: uma conversa. Fale com sua família, informe-se, participe das campanhas e ajude a criar uma cultura de solidariedade e empatia.

Seja um elo nessa corrente de vida. Porque quem doa, salva. E quem salva, transforma o mundo.

Fontes e Referências:

  • Ministério da Saúde
  • Associação Brasileira de Transplante de Órgãos – ABTO
  • Hemocentro São Paulo – Fundação Pró-Sangue
  • Portal Saúde Brasil – Doação de Sangue
  • Sistema Nacional de Transplantes – SNT